sábado, 12 de janeiro de 2013

Truques para arranjar emprego no estrangeiro

No Reino Unido não deve incluir fotografia no currículo, para evitar hipóteses de discriminação. Na Holanda ninguém o entrevista se não tiver uma morada no país e no Brasil o melhor é concorrer a multinacionais – são mais imunes às cunhas.

    O recrutamento não é sempre igual. “Há muitos anos, na África do Sul, era preciso dividir as pessoas em categorias: negro, mestiço ou branco. Todas as estatísticas, mesmo as de consumo, as incluiam.

    E o mercado de trabalho também estava organizado assim”, explica José Bancaleiro, sócio-gerente da Stanton Chase, uma empresa de recrutamento, em Portugal. Isso acabou, mas ainda há regras diferentes nos cinco continentes.

    Por isso, se é um dos 85 desempregados que todos os dias sai de Portugal, leia este artigo antes de fazer a mala.


 Suíça – Peça uns meses antes de ir

     Quando Francisco Amado, que vive em Zurique há oito meses, se mudou para a Suíça, tinha dois empregos. O seu, como arquiteto, e outro, quase a tempo inteiro: procurar casa. “Em toda a Suíça, mas sobretudo em Genebra e Zurique é mais difícil encontrar casa do que emprego”, explica.

     Isto porque, justifica, há cerca de três apartamentos livres para cada mil pessoas. “No meu caso passaram-se sete meses e quase 150 visitas a quartos e apartamentos até encontrar casa definitiva. Até lá, fiquei num hotel ‘barato’ (€2.500 por mês), em quartos emprestados e casas temporárias.”

     Regra básica na Suíça: não estar disponível de imediato sem garantir alojamento. “Se voltasse atrás pedia dois ou três meses para encontrar casa e julgo que compreenderiam”, diz. Mas há mais regras. Pedir uma cunha, por exemplo, só atrasa o processo.

     “Os suíços não o fazem e não gostam que lhes peçam para o fazer.” Não falar a língua é outro obstáculo. Francisco foi rejeitado em mais de 200 empresas porque não falava alemão, língua oficial daquela região da Suíça. O melhor é investir num curso ainda em Portugal – pode pagar metade do que gastaria na Suíça.


       Reino Unido - Currículo sem idade

       Primeiro ponto para conseguir emprego: preparar um currículo diferente. No Reino Unido não deve incluir fotografia, data de nascimento e nacionalidade. As empresas britânicas querem evitar ser acusadas de discriminação, explica Sofia Cerqueira, que trabalha em Londres como jornalista numa publicação do grupo Financial Times. “Os currículos do Europass também são para esquecer. Envie duas páginas no máximo”, acrescenta.

      Quando tiver o currículo pronto, não o envie directamente. “Toda a contratação é feita através de agências de recrutamento. A maior parte das empresas nem sequer tem sistemas internos para responder a anúncios”, explica José Bancaleiro. Por isso, o ideal é procurar agências especializadas em recrutamento internacional. “Encontra-as facilmente na Internet. Procurar emprego directamente só funciona em trabalhos menos especializados, como bares e restaurantes.”
 

 França - Vista o seu melhor fato

A França é o país onde há mais portugueses a viver – mais de 580 mil registados entre 2000 e 2010, segundo o Observatório da Emigração. E, aqui, falar bem francês é uma condição essencial. Em algumas profissões, como médicos e enfermeiros, é mesmo preciso ser fluente. E não vale a pena mentir. Em muitas agências de recrutamento o teste de francês é uma das etapas da entrevista.

       Alain Miranda, da consultora ExSo, assegura que também é importante ter uma boa apresentação, segundo os cânones franceses claro: para os homens isso significa ir de fato e gravata às entrevistas. Já as mulheres devem levar um blazer. E isto é válido, alerta Alain, mesmo para as áreas das engenharias, que tendem a ser mais descontraídas – os franceses gostam da formalidade.

      Outro ponto importante é mostrar que está empenhado em trabalhar no país. Evite dizer que ainda não falou com a sua família sobre a hipótese de emigrar ou que quer sair do país apenas por causa da crise. Alain Miranda já acompanhou casos em que os candidatos portugueses desistiram do trabalho porque, à última hora, não estavam preparados para emigrar ou encontraram emprego em Portugal. “Não é incomum.” 


  Alemanha - Chegue antes da hora

       Se quer ter um currículo irrepreensível para uma empresa alemã não se esqueça de o traduzir para alemão e de colocar uma fotografia. Na Alemanha a imagem do candidato faz parte do processo de recrutamento, assinala a ficha do país no Eures, Portal Europeu de Mobilidade Profissional. E traduzir o currículo também, mesmo que não fale alemão (o que deverá indicar no CV). “Eles valorizam as pessoas que revelam querer integra-se”, diz Débora Miranda, que trabalhou no país na área de tradução e jornalismo. A portuguesa aconselha a dizer algumas palavras em alemão na entrevista.
       Em profissões mais técnicas, como as engenharias, falar a língua é ainda mais importante, assinala Alain Miranda. É que não se pode descurar a concorrência de países de Leste, como a Polónia ou a República Checa, onde os candidatos não só estão tão bem preparados tecnicamente, como têm mais facilidade em aprender alemão.

       A melhor técnica é inscrever-se em sites de emprego, como o Monster. “O processo é muito transparente e as candidaturas através destes sites funcionam mesmo”, diz Débora. E não se esqueça de chegar cedo às entrevistas: cumprir o horário não basta, a regra é estar no local 15 minutos antes do combinado. 


  Holanda - Não vá antes dos 23 anos 

        Tentar encontrar emprego na Holanda pela Internet não é fácil. “Se não tiver uma morada local ninguém o chama para entrevistas”, diz um português que trabalha na área de consultoria. Um truque possível é dar a morada de um amigo que viva no país.

        Acontece mais ou menos o mesmo no Reino Unido, para onde Tiago Teixeira, 29 anos, fisioterapeuta, se vai mudar este mês. “Nenhuma empresa o contrata sem ter conta bancária. E para conseguir uma conta bancária é preciso ter comprovativo de morada e provar que vive lá [ter uma despesa em seu nome, como a água, ajuda]”, explica.

      Outro passo obrigatório na Holanda é fazer um seguro de saúde. Nenhuma empresa o contrata se não o tiver – custa cerca de 100 euros por mês. Depois, inscreva-se num curso de holandês: falar inglês não é diferenciador num país onde mesmo os profissionais menos qualificados falam a língua.

      E se tem menos de 23 anos pode ser aconselhável esperar. Na Holanda, o salário mínimo depende da idade: aos 18 anos o valor base por hora é de 3,80 euros; a partir dos 23 anos é de 8,35 euros. 


  Brasil - Concorra a multinacionais

       É sabido que o nível de QI é importante para conseguir emprego. Mas, no Brasil, além do habitual Quociente de Inteligência, há outro QI muito valorizado, o chamado “Quem Indica”. “As indicações funcionam muito no Brasil, mais do que em Portugal”, explica um advogado português que trabalha no país. Para contornar a cunha concorra a empresas estrangeiras – aí o seu currículo será, à partida, mais importante do que os conhecimentos pessoais. A maior parte das multinacionais estão no Rio de Janeiro e em cidades como Macaé e Itaguaí.

      Segundo problema: reconhecer um curso feito em Portugal pode demorar entre seis meses a três anos. Se for arquitecto ou engenheiro contorne a questão trabalhando como assistente de um profissional registado, enquanto espera pela equivalência – só não pode assinar projectos. Mas também há formas de acelerar o processo: faça o pedido de equivalência numa universidade em que o curso tenha disciplinas o mais semelhantes possível com as portuguesas. Porque se lhe faltarem cadeiras pode ter de fazer uma prova ou ser obrigado a repetir as disciplinas.

      Outra estratégia é começar o processo ainda em Portugal, sugere Rui Castro, da Scale International, que ajuda os portugueses a fixarem-se naquele país. Ou seja, nomear um procurador (advogado ou familiar) para tratar disso no Brasil. 




 Estados Unidos - Dê boas referências

        Aviso: a honestidade é uma das características mais valorizadas. Por isso, fuja à tentação de mentir . Porque o que é tolerado em Portugal, onde 20% dos currículos recebidos pelas empregadores têm informações falsas, não é nos Estados Unidos. Veja-se o caso de um português que trabalhou lá. Todas as pessoas que deu como referência (três) foram contactadas – uma delas num ministério português. Por isso, é essencial dar como referência pessoas que saibam falar inglês.

       O visto de trabalho é outro dos problemas: o número distribuído anualmente é limitado e depende das necessidades do país. “Num ano podem ser precisos médicos, noutro empregadas domésticas, isso varia”, explica Anne Taylor, presidente do American Club of Lisbon. E como não há uma tabela oficial que indique as profissões em que é mais provável ser aceite, o truque é sondar o mercado: as profissões mais requisitadas pelos sites de recrutamento americanos são um bom indicador.

      Para quem quer trabalhar e estudar é tudo mais fácil: fazer um mestrado dá direito a trabalhar durante um ano no país.


 Austrália - Entre como estudante

       Teoricamente há três formas de entrar na Austrália. A primeira é conseguir que uma empresa lhe patrocine o visto. “É raro ”, explica Miguel Covas, director da Information Planet, uma agência de estudantes especializada na Austrália. Outra é concorrer a um visto de emigração que avalia os candidatos com base em quatro critérios: ter uma das quase 200 profissões pedidas pelo país é obrigatório (as áreas de marketing, artes, desporto e ciências sociais estão praticamente fora de questão), experiência profissional nessa área, menos de 49 anos, e um nível fluente de inglês. “É um sistema quase matemático.
       A pontuação máxima exige que tenha entre 25 a 32 anos, oito anos de experiência profissional na sua área de licenciatura e um nível de inglês de oito (numa escala até 9), explica Miguel Covas. Por isso, “a única via possível para mais de 90% das pessoas é fazer uma formação extra na Austrália com um mínimo de 20 horas semanais.” Ou seja, entrar com um visto de estudante, que lhe permite trabalhar em part-time (e em full-time nas férias escolares). Depois de já lá estar, consegue ficar.

      Segunda condição: ter dinheiro. Tratar do processo de emigração custa entre 3 mil e 6 mil euros e fazer um curso, pelo menos mais 4 mil . Também é preciso contar com imprevistos. Tiago Teixeira, 29 anos, começou por escolher um curso de inglês de seis meses, que lhe custaria 6.500 euros. “Como já tinha nível 7 percebi que três ou quatro meses de inglês chegavam. Conseguiria baixar os custos e ficar quase um ano e meio no país se, em vez de só inglês, optasse por um curso técnico. No total, pagaria 7.500 euros.”

      Durante esse período Tiago esperava reconhecer o curso de fisioterapia. “Desisti porque me exigiram todo o conteúdo programático traduzido para inglês por um tradutor oficial do país.” Para isso, teria que gastar 35 euros por cada uma das 200 páginas, ou seja, 7 mil euros. 

 Angola – Negoceie em euros

      Em Angola, os empregos com melhores salários estão na capital, Luanda, e em zonas associadas a empresas petrolíferas, nomeadamente Cabinda-Soyo, explica Hermínio Santos no guia Trabalhar em Angola. Além do petróleo, a banca, a grande distribuição, os sectores dos serviços (comunicações, hotelaria e restauração), agricultura, educação e saúde são as áreas que mais precisam de profissionais. Mas enviar um currículo pela Internet não serve.

      Para conseguir emprego no país tem de falar pessoalmente com os recrutadores. “Se tiver qualquer forma de ficar em Angola, mesmo que temporariamente, isso pode ser positivo. As empresas vão valorizar não ter que lhe pagar casa, carro, etc.”, diz um português que vive no país.

      Quando negociar o salário tente receber pelo menos uma parte em euros, explica Hermínio Santos. “As eventuais desvalorizações do dólar em relação ao euro podem ter grande influência no que vai receber ao fim do mês.” 


 Moçambique - Esqueça os cargos

       Primeiro ponto: não precisa de ir a Moçambique para conseguir emprego. Muitas empresas fazem recrutamento através da Internet e entrevistas por Skype. Outras, deslocam-se a Portugal.

       Em segundo lugar, não se preocupe com os cargos. Em Moçambique os únicos doutores que há são os médicos. Todas as outras pessoas podem ser tratadas por senhor ou senhora, revela fonte da empresa de recrutamento Select Vedior Moçambique.

      Procurar emprego também já não significa limitar-se à capital, Maputo. As províncias que estão a crescer mais são as do Norte, como Tete e Delgado – procuram sobretudo engenheiros ligados aos recursos naturais, energia e logística.

  
Arábia Saudita - Assegure a casa

       Para atrair a atenção do país árabe o ideal é ter formação nas áreas de saúde e engenharia, sobretudo se estiver ligado à construção e ao petróleo. “Há falta de profissionais qualificados na saúde e uma das razões é o facto de as sauditas não poderem trabalhar como enfermeiras”, explica Paulo Machado, presidente da consultora Mercer na Arábia Saudita. Depois, é preciso negociar bem o pacote salarial.
       Além do ordenado base, que pode chegar aos 20 mil euros por mês, há extras indispensáveis. “Se for mulher não pode conduzir, por isso precisa de um subsídio de transporte que pague carro e motorista, cerca de 600 euros por mês.” Além disso, assegure um valor para pagar a casa: um apartamento normal custa 600 a 900 euros por mês.

      “Se tiver filhos está quase obrigado a ir para um compound [uma espécie de cidade onde vigoram as normas ocidentais – a língua oficial é o inglês e é proibido andar de burca], porque é aí que estão as escolas internacionais”, explica Paulo Machado. Nesse caso, o preço sobe para 3 mil euros por mês.


Fonte: http://www.sabado.pt/Multimedia/FOTOS/Mundo/Fotogaleria-%28759%29.aspx
09-01-2013
Por Ana Taborda e Patrícia Silva Alves

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